9.01.2006

 

Intifada 2000 e o “Processo de Paz”

...

Os falhanços do Acordo de Oslo

“…Os Estados Unidos foram um péssimo patrocinador do processo de paz. Cederam perante todas as pressões de Israel, abandonando o princípio de “terra por paz” (nenhuma das resoluções das Nações Unidas fala em restituir a mais pequena parcela de terra, por compensação de todo o território de que Israel se apoderou em 1967), empurrando a desvitalizada autoridade palestiniana para um abismo autêntico face às grotescas propostas de Netanyahu…”

“…O facto é que os Palestinos se encontram numa situação muitíssimo pior do que antes de começarem as negociações de Oslo. O rendimento anual médio é agora menos de metade do que era em 1992; não lhes é permitido viajar nem deslocarem-se dentro do seu próprio país; mais terra lhes foi tomada do que fora no passado; há mais colonatos judeus implantados no seu território e Jerusalém está praticamente perdida…”

“…Cada casa demolida, cada expropriação, cada aprisionamento seguido de tortura, todas as barricadas, cada "encerramento" (Vide, mais abaixo, o significado específico do termo "encerramento"), todo e qualquer gesto de arrogância e de humilhação deliberada faz simplesmente reviver o passado e instaura de novo as ofensas de Israel contra o espírito, a terra e o corpo político dos palestinos. Falar de paz num contexto tal é tentar reconciliar o irreconciliável…”
In: “The Progressive”, Março de 1998, de Edward Said.

As raízes da “Intifada 2000”

“…A explosão da ira dos palestinos a 29 de Setembro do ano 2000 pôs fim à fantochada que tinha começado em Oslo 7 anos antes, e que tinha o rótulo de “processo de paz”.

Em 1993, os palestinos tal como milhões de pessoas em todo o mundo tinham sido levados a pensar que Israel iria retirar-se da Cisjordânia e da Faixa de Gaza dentro de 5 anos e que os palestinos poderiam então ter a liberdade de estabelecer um estado independente. Entretanto ambos os lados elaborariam os detalhes da retirada de Israel e definiriam o acordo sobre o estatuto de Jerusalém, o futuro dos colonatos judaicos e o regresso dos refugiados palestinos…”.

“…devido à desigualdade das forças em presença, as negociações não conduziram a lado nenhum e a esperança dos palestinos nunca foram satisfeitas. Os israelitas, independentemente do governo que estivesse no poder, fazia meros jogos de palavras, dava o dito por não dito e recusava aplicar as resoluções já acordadas.
Entretanto sucessivos governos iam demolindo casas de palestinos, iam tomando posse de terrenos árabes nos arredores de Jerusalém Leste, e expropriando terra palestina para instalar mais colonatos.
Uma impressionante rede de auto-estradas foi construída a partir de 1993 confiscando, retalhando e deixando isoladas grandes áreas e localidades situadas em terra palestina e estas de Jerusalém, forçando as populações palestinas a terem que se deslocar através de distanciados postos de controlo unicamente para chegar a uma localidade que ficava ali mesmo ao lado!...”
(N.T.: o uso de tais auto-estradas é para uso exclusivo de israelitas e está interdito aos palestinos, em cujo território se situam!...)

“…De acordo com o presidente Clinton e a maior parte dos meios de comunicação, o primeiro ministro Ehud Barak concedeu em Camp David tudo aquilo que desejavam os palestinos, e Yasser Arafat jogou fora a possibilidade de paz rejeitando a oferta de Barak.

De facto, Arafat, nada podia ter aceitado.
Barack, com o apoio de Clinton desejava manter o controlo da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, incluindo o espaço aéreo e as fronteiras, e insistindo na garantia de que Israel devia reter a permanente soberania sobre a quase totalidade de Jerusalém Leste, incluindo Haram Al-Sharif. Era um acordo que nenhum árabe poderia jamais aceitar.

“...À medida que aumentavam os protestos, helicópteros israelitas bombardeavam com rockets zonas habitadas de várias cidades palestinas, destruindo blocos habitacionais inteiros e causando larga quantidade de vítimas.

Tanques Israelitas cercavam cidades palestinas com os seus canhões apontados às áreas habitadas.
Civis israelitas armados actuavam dentro da “linha verde” (fronteiras de 1967) causaram distúrbios e fizeram agressões, destruindo haveres de árabes aos gritos de “morte aos árabes”… A polícia israelita, tão rápida no gatilho contra as crianças palestinas que atiravam pedras nada fizeram para conter esses actos, tendo feito fogo sobre árabes que tentavam defender as suas casas. Dois árabes foram mortos…”

“…O levantamento foi, sem dúvida nenhuma, alimentado pelos ressentimentos causados por anos de afrontas e abusos permanentes sob ocupação israelita. No dia 6 de Setembro, um grupo de polícias israelitas de fronreira mandou parar três trabalhadores palestinos quando estes regressavam a casa do seu trabalho em Israel e, sem razão alguma, sujeitaram-nos a 40 minutos de torturas.

O “San Francisco Chronicle” noticiou que no dia 19 de Setembro que os polícias socaram os três homens, bateram com as suas cabeças de encontro à parede, forçaram-nos a engolir o próprio sangue, tendo proferido insultos a respeito de suas mães e irmãs.
O incidente apenas se tornou conhecido porque os polícias tiraram fotografias deles próprios e de suas vítimas, segurando-os pelos cabelos, como que erguendo suas cabeças como troféus de caça. Colaboradores de instituições judaicas de direitos humanos afirmaram que tais espancamentos são coisa frequente, mas raramente são noticiados…”
In: “The Peace Process Ends in Protests and Blood”, por Rachelle Marshall, Washington Report on Middle East Affairs, December 2000.


“Israel falhou o test”

“...No acordo de Oslo, Israel e o Ocidente puseram a liderança palestina à prova: em troca de uma promessa israelita de desmantelamento gradual dos mecanismos de ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, as autoridades palestinas prometia cessar todo os actos de violência e de terror imediatamente. Para esse efeito foi criado todo um dispositivo de coordenação de segurança, foi construído um número crescente de prisões para palestinos, e os manifestantes foram impedidos de se aproximar dos colonatos judios.

“…Os dois lados concordaram num período de cinco anos para a concretização de um novo ordenamento e na negociação de um acordo final. A autoridade palestina foi aceitando sucessivas dilações do período experimental… Do seu ponto de vista, Israel também estava a ser posto à prova: estaria Israel disposto a abandonar a sua atitude de superioridade e domínio, concebido para manter o povo da Palestina sob o seu poderio?

“…Mais de sete anos passaram e Israel mantém controlo administrativo e de segurança de 61,2% da Cisjordânia e cerca de 20% da Faixa de Gaza, e controlo de segurança de outros 26,8% da Cisjordânia.

Foi este controlo que permitiu a Israel duplicar em dez anos o número de colonatos judaicos naquela região, constranger e fraccionar uma nação em áreas incomunicáveis entre si, retalhada por estradas nas quais apenas podem circular judeus!...”

“…Israel falhou o test. O controlo palestino de 12% da Faixa de Gaza não significa que Israel tenha desistido da sua atitude de superioridade e domínio… O banho de sangue que tem estado a suceder nestas últimas três semanas é a consequência de sete anos de mentiras e trapaças de Israel…”
in: “Israel Has Failed The Test,”, pelo jornalista israelita Amira Hass, publicado no Ha’aretz de 18 de Outubro de 2000.

Relatório elementar dos factos efectuado por Jimmy Carter – Novembro de 2000

“...Há uma razão subjacente ao falhanço de anos e anos de diplomacia dos Estados Unidos e na violência que persiste no Médio Oriente: os dirigentes israelitas continuam a “produzir ocasiões” ao construir colonatos em territórios ocupados…”

“…Em Camp David em Setembro de 1978… as cláusulas bilaterais conduziram à redacção de um tratado geral e permanente entre o Egipto e Israel, tornado possível no último instante pela aceitação de Israel de retirar os seus colonos do Sinai. Decisões nesse mesmo sentido relativas à Cisjordânia e à Faixa de Gaza não foram honradas, o que conduziu a confrontações e a violência..

“…Relativamente à Resolução nº 242 das Nações Unidas o compromisso legal do nosso governo para apoiar esta equilibrada resolução não se modificou… Evidentemente que os colonatos de Israel nos territórios ocupados eram uma violação directa deste acordo e, de acordo com a posição americana já tomada muito anteriormente, eram simultaneamente “ilegais e um obstáculo para a paz”.

De acordo com isso o primeiro ministro Menahem Begin prometeu que não tornaria a haver instalação de novos colonatos até que as negociações de paz estivessem concluídas. Mais tarde, sob a pressão do partido Likud declinou honrar esse compromisso…”

“…É improvável que um progresso real possa ser feito… enquanto Israel insistir na sua política de assentamento de colonatos, ilegal perante a legislação internacional que é apoiada pelos Estados Unidos e por outras nações.

“…Existem muitas questões pendentes à medida que continuamos a procurar um fim para a violência no Próximo Oriente, mas não há forma de contornar o problema central: Terra ou Paz?...”

Declarações do ex-presidente dos Estados Unidos da América ao “The Washington Post” de 26 de Novembro de 2000.


Oslo e a Intifada – continuação

“…Depois de três semanas de guerra virtual nos territórios ocupados por Israel, o primeiro ministro Ehud Barak anunciou um novo plano para determinar o estatuto final da região. Durante estas semanas mais de 100 palestinos foram mortos, incluindo 30 crianças, essencialmente devido “ao uso excessivo de processos letais em casos que não era posta em causa a vida ou de sério risco para as forças de segurança ou de quaisquer outras pessoas, tendo resultado desse uso matança ilegal de pessoas…”
Relatório detalhado da Amnistia Internacional que apenas foi sumariamente referido nos Estados Unidos.

“…O plano de Barak garante que a terra arável e outros recursos (principalmente água) ficará principalmente nas mãos de israelitas enquanto que a população é administrada por uma autoridade palestina corrupta e brutal, que representa o papel atribuído aos colaboradores indígenas nas situações típicas de administração colonial: os responsáveis negros dos Bantustões da África do Sul, para recorrer a uma analogia francamente óbvia…”

“…É necessário lembrar que estas políticas não foram apenas propostas, mas postas em prática, com o apoio dos Estados Unidos da América.

Esse apoio foi decisivo desde 1971, quando Washington abandonou o enquadramento diplomático básico que tinha iniciado (Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas). Prosseguindo depois nos anos seguintes com a rejeição dos direitos dos palestinos, o que culminou com o “processo de Oslo”.
Uma vez que todos estes factos foram de facto “apagados” da história dos Estados Unidos, é difícil analisar os factos essenciais. Não é que sejam postos em dúvida, são apenas “omitidos”.
Noam Chomsky, “Al-Aqsa Intifada”, October 2000.

Os Estados Unidos da América – um mediador imparcial?

“…A credibilidade da América, como mediadora, fora posta em dúvida de há muito, pelos palestinos, e com razão. “Os palestinos sempre se queixam de que nós conhecemos os detalhes de cada proposta dos americanos antes deles a apresentarem…” dizia recentemente ao “The Independent” uma fonte governamental israelita.

“E há uma boa razão para isso: somos nós próprios que as redigimos”.
Phil Reeves ao jornal britânico “The Independent” de 9 de Outubro de 2000.

Os meios de comunicação dos Estados Unidos, estritamente controlados, relatam (alguns) factos mas não dizem a verdade

“…Os jornalistas americanos raramente exploram as razões mais profundas que fazem crer que os Estados Unidos são um dos elos da cadeia da violência, tão frequentemente condenada.

Na primeira metade de Outubro, nem sequer havia nos meios de comunicação análise que se visse do facto de que uma esmagadora violência se abatia nessa altura sobre o povo da Palestina.
“…No período de alguns dias, várias dúzias de palestinos foram mortos por militares uniformizados e fortemente armados – geralmente descritos pela CNN e por outras vozes como “forças de segurança israelitas”. Vistos os factos, era uma terminologia muito benevolente para designar um exército que atira para matar sobre manifestantes…”

“…No que toca aos palestinos que atiravam pedras, nunca vi um único relato noticioso de fonte americana descrevendo-os como “manifestantes pró-democráticos”. Essa seria contudo uma forma apropriada para designar pessoas que – depois de terem vivido mais de trinta anos sob ocupação – saem para a rua exigindo auto-determinação…”

“… Enquanto que os soldados e a polícia Israelita, com o seu impressionante poder de fogo se encarregavam da maior parte da matança… os noticiários americanos preferiam salientar os ardilosos “ultimatuns” lançados pelo primeiro ministro Ehud Barak para que os palestinos “acabassem com a violência” – enquanto a tropa armada sob as suas próprias ordens continuava a abatê-los a tiro…”

“…Tal como certo número de outros judeus americanos, estou escandalizado com a forma como Israel usa o dinheiro dos contribuintes americanos. Enquanto a classe jornalística faz que anda mas não anda, eles tratam de vilipendiar a humanidade que há em todos nós…”
Norman Solomon, “Media Spin Remains In Sync With Israeli Occupation,” from FAIR’s Media Beat, October 14, 2000.


Intifada 2000 – uma visão global


“…Numa análise final existe somente uma forma de acabar a violência, e será pura e simplesmente acabar com a ocupação. O desejo de libertação acabará sempre, ao fim ao resto, por trazer para a rua um povo de pedras na mão, pronto para enfrentar o mais poderoso dos exércitos, preferindo a morte a viver algemado. E não se tratará de extremismo, racismo ou fervor religioso. É apenas o desejo de liberdade…”

“…A ocupação é uma realidade de violência interminável. Significa viver cercado pela força abusiva dum exército estrangeiro que impõe um regime social impossível de diferenciar do apartheid: confiscação de terras que é distribuída por centenas de milhares de colonos judeus, instalados em comunidades que lhe são exclusivamente destinadas, ligadas entre si por estradas onde apenas os judeus podem circular; casas demolidas; tortura; cidades tornadas incomunicáveis entre si permanentemente!...

É como viver numa imensa prisão!...”

“…Desde 1967 apenas existiu uma possibilidade válida de resolver o conflito. O plano está articulado na Resolução nº 242 das Nações Unidas, que concebe uma solução bipartida de “terra por paz”.

A primeira parte determina que Israel deve sair dos territórios ocupados em 1967. A segunda solicita a todos os estados da região que vivam em paz e segurança dentro de tais fronteiras. A obrigação israelita de efectuar a retirada acordada está inteiramente por cumprir…”
Palavras de Hussein Ibish, director de comunicações do Comité Americano-Arabe de Anti-Discriminação, ao “Los Angeles Times” de 18 de Outubro de 2000.


Madeleine Albright coloca tudo em pratos limpos

“…Com o seu ar inexpressivo, maquinal e o olhar parado, Madeleine Albright repetiu:

“Aqueles palestinos atiradores de pedras sitiaram Israel”, acrescentando que o exército Israelita ficou na defensiva…

Madeleine Albright citada por Hanan Ashrawi no “The Progressive”, Dezembro de 2000.


O que foi oferecido a Arafat

“…Na cobertura americana dos recentes encontros de Camp David, a imprensa americana seguiu obedientemente as posições de Israel e do governo dos Estados Unidos, tentando fazer crer que primeiro ministro Israelita Ehud Barak fazia corajosas concessões para alcançar a paz, enquanto que a má vontade dos palestinos comprometia por completo os resultados dos encontros.

“…Não importa que as “corajosas concessões” de Ehud Barak consistissem no consentimento de que os palestinos teriam de compartilhar responsabilidades administrativas num par de remotas freguesias de Jerusalém Leste – migalhas patéticas atiradas à carpete para Iasser Arafat ir apanhar, agradecidamente.
“What Americans Need to Know — But Probably Won’t Be Told — To understand Palestinian Rage”do reporter Americano Eduardo Cohen, do Palestine Media Watch, http://www.pmwatch.org/

O que foi oferecido a Arafat – continuação

“…Barak aparentemente solicita apenas 10% dos territórios ocupados.

Na realidade trata-se de perto de 30%, levando em conta os territórios que ele pretende anexar na área de Jerusalém, e os que quer colocar sob protecção do seu “controlo de segurança” no Vale do Jordão.

Pior do que isso, no mapa que foi apresentado aos palestinos, a contagem dos pontos percentuais corta o país de Leste a Oeste e de Norte a Sul, de forma que o estado palestino ficaria constituído por um grupo de ilhotas rodeado por colonos judeus e tropa…”

“…A opinião publica mundial está sempre do lado do mais fraco.

Nesta luta nos somos Golias e eles são David.
Aos olhos do mundo (fora dos Estados Unidos) os palestinos estão a travar uma luta de libertação contra uma ocupação estrangeira.
Nós estamos no território deles e eles não estão no nosso.
Nós somos os ocupantes, eles são as vítimas. Esta é a situação na realidade e nenhum ministro da propaganda pode mudar isto…"
”Palavras de Uri Avnery, activista israelita pela paz, “12 Conventional Lies About the Palestine-Israeli Conflict” da Palestine Media Watch, www.pmwatch.org.

“CARTA ABERTA PARA UM AMIGO, AGORA EM PAZ”, escrita por um Israelita

“…Sete anos passaram exactamente desde que te escrevi a última carta. Foi no dia seguinte à assinatura dos acordos de Oslo, quando me convidaste para dançar contigo na Praça Menorah. Deixa-me que te repita algumas passagens dessa velha carta:
“…Dançaram na Praça porque estavam felizes com esta paz. Não uma simples paz, mas uma mistura de paz e de segurança, palestinos que batiam no peito por crimes cometidos, em renúncia ao terrorismo, e concessões de longo alcance feitas pela outra parte.

Uma paz de que se podiam orgulhar.
Uma paz – assim se vangloriavam – pela qual nada temos de dar em troca (só “uma coisinha de nada”, sussura o primeiro ministro) e ganhando muito com ela; reconhecimento, maior segurança, o fim da Intifada, renúncia ao terrorismo, sermos aliviados dos árabes e mais do que isso.
È grande a vossa alegria com essa paz, e em sua honra convidam-me para dançar convosco. Não, obrigado!...
Vocês viram-se livres de Gaza, separaram israelitas de palestinos, a quem deixaram o trabalho sujo e nem sequer prometeram retirada ou a constituição dum verdadeiro estado. Quanto vale uma paz, comprada assim tão barata?...”

“…Eu, pelo contrário, vejo a paz como um fim e não como um meio, e peço a saída dos territórios ocupados porque não temos nada a fazer ali, mesmo se a ocupação não nos tivesse custado uma única vítima ou um cêntimo; e sou contra atirar tiros sobre crianças – e adultos! – simplesmente porque é proibido disparar sobre crianças ou sobre civis desarmados…”

“…Desde que escrevi estas palavras celebraram a paz e ficaram gordos e prosperaram. A repetida e variada violação dos acordos não vos comoveu, já para não falar nas modificações na nossa cultura de guerra e ocupação, a voz arrogante daqueles que negociaram em nosso nome e as suas tentativas para ganhar mais e mais, e troca de menos e menos…”

“…Que coisas haverá nisso que nos confundam?

Um exército conquistador usa tanques e helicópteros de assalto para dispersar manifestações de povo.
O que há aqui tão difícil de compreender?...
Há uma ocupação e há uma luta contra essa ocupação!
Há manifestantes e há um exército que recebeu ordens para derramar o seu sangue. E não me venham com a história das carabinas! A vossa gloriosa carreira de armas habilita-vos a entender aquilo que até os jornalistas da CNN entendem: tais carabinas não colocam Israel em perigo, ou os seus soldados se não se chegarem lá mesmo ao pé!...”

“…Na carta de 1993 dizia eu que o tango da paz implica a existência de um par que dance em unidade e igualdade; não é dança em que um dos pares arraste o outro conforme lhe apeteça…

Na vossa dança de paz não há nenhum par, só inimigos. Porque na vossa paz com ocupação, o vosso ganho é a perda deles…
A paz ainda está longe porque exige honestidade, exige igualdade. Querem forçá-los a mentir, querem arrancar-lhes uma paz de rendição, querem celebrar uma paz entre opressor e escravo.
Em tais condições talvez possa haver a paz dos cemitérios, mas Paz verdadeira não.
E nunca antes que abram os vossos olhos e o vosso coração. E nunca antes que estiverem prontos para uma paz partilhada em igualdade…”
“The Party Is Over: An Open Letter to a Friend In Peace Now,” de Michael (Mikado) Warschawski,


“Barak prometeu a paz e trouxe a Guerra, e não foi por acaso”

“…Barak prometeu a paz e trouxe a Guerra, e não foi por acaso.

Enquanto falava de paz, alargava os colonatos.
Cortava os territórios palestinos em fatias com estradas “de atravessamento”.
Confiscava terras.
Demolia casas.
Desenraizava árvores.
Paralisava a economia palestiniana.
Conduzia negociações mediante as quais tentava impor aos palestinos uma paz que equivalia à capitulação. Não estava satisfeito ainda com o facto de os palestinianos já terem cedido 78% da área da sua mãe pátria. Exigiu a anexação de “blocos de colonatos” e fingiu que eles apenas constituíam 3% do território, quando de facto significava que mais do que 20% ficariam sob controlo de Israel.
Quis coagir os palestinianos a aceitar um “estado” inteiramente seccionado de todos os seus vizinhos, composto de diversos enclaves isolados uns dos outros, cada um deles rodeado por colonos israelitas e soldados…
Vangloriou-se publicamente de que não tinha restituído aos palestinianos uma única polegada de território…
Quando a Intifada irrompeu, enviou atiradores especiais para abater a tiro, à distância, a sangue frio, centenas de manifestantes desarmados, adultos ou crianças.
Bloqueou cada vila e cidade, isolando-as, levando-as até ao ponto de morrerem de fome de forma a obrigá-las a renderem-se.

Bombardeou as freguesias rurais.
Iniciou uma política de assassinatos selectivos tipo “máfia”, o que acarretou uma inevitável escalada da violência…”
Uri Avnery, activista israelita pela paz, 3 de Fevereiro de 2001, www.gush-shalom.org

Uma ocupação “benigna”

“…Os Israelitas gostam de acreditar, e dizem ao mundo, que estão a conduzir uma ocupação “esclarecida” e “benigna” , qualitativamente diferente de outras ocupações militares que o mundo conheceu. A verdade é inteiramente outra. Como todas as ocupações, Israel foi fundado com força bruta, repressão e medo, colaboracionismo e traição, espancamentos e câmaras de tortura, intimidação feita dia após dia, humilhação e manipulação…”
In: “Righteous Victims” de Benny Morris, historiador Israelita.

O que significa “encerramento”

“…A uma hora de automóvel de Jerusalém, um drama cruel decorreu durante os passados cinco meses, coisa que já não se via desde os primeiros tempos da ocupação Israelita, mas a maioria dos israelitas não liga a mínima importância. O punho de ferro do “encerramento” no seu novo formato está a estrangular progressivamente uma população de 2,8 milhões de pessoas, e no entanto, ninguém diz uma palavra…”

“…Tem de ser dito frontal e directamente: nunca houve um “encerramento” destes aqui, no país das barreiras e dos encerramentos. Nos piores momentos da Intifada anterior, quando as IDF (forças armadas israelitas) estavam por todo o lado e o recolher obrigatório era imposição absoluta, não havia uma tal situação em que todo um povo é prisioneiro sem ter sido julgado, e sem direito a recorrer judicialmente…”

“…Israel retalhou a Cisjordânia com centenas de trincheiras, aterros de detritos e cubos de betão que foram amontoados à entrada da maioria das localidades.

Ninguém entra nem ninguém sai , nem as mulheres grávidas nem os moribundos.

Não há sequer um soldado com quem se possa argumentar ou a quem se possa implorar seja o que for.

Uma teia de atalhos sinuosos que contorna labirintos e lança todo um povo através de trilhos irregulares, pedregosos, lamacentos, às quais não falta o risco agravado de ser preso ou de levar um tiro de soldados que frequentemente alvejam os desesperados viajantes…”

“...Nunca antes disto houve tamanha angústia e sofrimento numa escala tal entre os palestinos destes territórios. Irá crescer dentro de si um desespero sem precedentes que disparará a violência de um momento para o outro, de forma mais cruel e dolorosa do que tudo até aqui…

A questão é esta: a horrível tensão a que estão sujeitos os palestinianos devido ao presente estado de “encerramento” irá em breve transformar-se no desespero dos israelitas…

O estado de sitiados, a escandalosa acção opressiva, deve ser levantada rapidamente.

Tal deverá ser feito sem condições na cessação da violência, porque o cerco do “encerramento” é o mais eficaz estímulo para a violência…”

Palavras de Gideon Levy, escritor ao Há’aretz, 4 de Março de 2001







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