9.01.2006

 

O SIONISMO E O HOLOCAUSTO

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As decisões das Nações Unidas para fazer a “partilha” da Palestina e depois a de admitir o estado de Israel como seu membro foram tomadas, em parte, como resposta emocional aos horrores do holocausto. Em condições verdadeiramente normais a justa reivindicação da maioria árabe à soberania teria levado a melhor.
Esta reacção de culpa de parte dos aliados ocidentais foi compreensível, mas isso não significa que os palestinianos devessem ter de pagar pelos crimes cometidos por outros – exemplo clássico que dois erros somados não produzem uma decisão certa.
O holocausto é frequentemente usado como argumento final a favor do sionismo, mas será tal associação legítima?

Há muitos aspectos a considerar na resposta honesta a essa questão. Primeiro teremos que examinar os arquivos históricos quanto ao papel que os sionistas desempenharam para salvar a comunidade judaica dos nazis.

Shamir propôs uma aliança com os nazis

“… em 1941 o grupo sionista LEHI, e o seu líder Yitzhak Shamir que chegaria mais tarde a ser primeiro ministro de Israel, abordou os nazis em nome da sua organização originária, a IRGUN (NMO) nos seguintes termos:
O estabelecimento do estado histórico dos judeus baseado no totalitarismo e no racismo e ligado ao Reich alemão por um tratado seria no interesse do reforço do futuro das relações de força da nação alemã no Próximo Oriente. O NMO da Palestina propõe tomar parte activa na guerra ao lado da Alemanha…”
Os nazis rejeitaram a proposta de uma aliança porque, de acordo com declarações, consideraram o poder militar da LEHI como insignificante…”

In: The Washington Report On Middle East Affairs, Julho/Agosto 1998, por Allan Brownfield.

Salvar Judeus do holocausto não seria o principal objectivo do sionismo?

“…Em 1938 foi organizada uma conferência de trinta e um países em Evian, França, para a reinserção das vítimas do nazismo. O Organização Mundial Sionista recusou-se a participar, receando que a reinstalação de judeus noutras partes do mundo reduzisse o número de judeus disponíveis para colonizar a Palestina…”
In: “Palestine and Israel: A Challenge to Justice”, de John Quigley.

“…O encontro do executivo da Agência Judaica em 26 de Junho de 1938 concluiu que o mais aconselhável para os sionistas era menosprezar tanto quanto possível a conferência de Évian e procurar que não chegasse a conclusões.
“Estamos especialmente preocupados se organizações judaicas conseguirem reunir grandes somas em dinheiro para ajudar refugiados judeus e que tais importâncias prejudiquem as nossas próprias recolhas de fundos…” Ben-Gurion declarou nesse mesmo encontro: “Nenhuma justificação pode transformar a conferência de modo a fazê-la passar de perigosa a útil. O que podemos fazer é limitar os seus estragos o mais possível…”
In: “Jewish State or Israeli Nation?” de Boas Evron, autor israelita.

“…Ben-Gurion declarou: “…se eu soubesse que era possível salvar todas as crianças da Alemanha transportando-as para a Inglaterra, mas somente metade delas para a Palestina, escolheria a segunda hipótese – porque aquilo que enfrentamos não é apenas o reconhecimento de tais crianças, mas o reconhecimento histórico do povo judeu…”
A seguir aos “progroms” da “Kristallnacht” , Ben-Gurion comentou que “a consciência humana pode levar vários países a abrir as suas portas a refugiados judeus da Alemanha. Ben-Gurion viu isso como um perigo e recomendou: “O sionismo está em perigo”
In: “The Seventh Million” de Tom Segev, historiador israelita.

“…mesmo o simpático biógrafo de Ben-Gurion reconheceu que ele nada fez na prática para o salvamento de judeus, dedicando as suas energias a tarefas relativas ao pós-guerra. Delegou as tarefas de salvamento a Yotzak Gruenbaum que declarou: “Vão dizer que sou anti-semita, que não quero evitar o exílio, que não tenho um “varm yiddish hartz” (um quente coração judeu)… deixá-los dizer o que quiserem! Não vou pedir à Agência Judaica que mobilize 300.000 ou 100.000 libras para ajudar a comunidade judaica da Europa. E penso que quem quer que peça uma tal coisa está a levar a cabo uma acção anti-sionista…”

“…os sionistas da América assumiram a mesma posição. No encontro de Maio de 1943 do “American Emergency Committee for Zionist Affairs”, Nahum Goldmann argumentou: “se se preparar um golpe contra o “Livro Branco” (política britânica de restrição à emigração judaica para a Palestina) as manifestações de massas contra o assassinato de judeus na Europa terão que ser deixadas de lado. Não temos gente disponível para ambas as campanhas…”
In: “The Holocaust in American Life” de Peter Novick

“O movimento sionista interferiu e obstruiu outras organizações judaicas e não-judaicas sempre que imaginasse que as suas actividades políticas ou humanitárias fossem de sentido diverso ou competissem com os objectivos sionistas, mesmo quanto tais actividades fossem favoráveis aos judeus, mesmo quando se apresentassem como questões de vida ou de morte. Beit Zvi documenta a indiferença da liderança dos sionistas quanto ao salvamento de judeus da ameaça nazi, excepto nos casos em que judeus pudessem ser trazidos para a Palestina, por exemplo no caso da disponibilidade do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo de receber cem mil refugiados judeus e a sabotagem dessa ideia pelo movimento sionista, como de outras que também houve para localizar judeus no Alaska e nas Filipinas…”

“…A imbecilidade do movimento sionista relativamente à comunidade judaica da Europa não a impediu, mais tarde, de proferir acusações exaltadas contra todo o mundo pela indiferença relativamente à catástrofe judaica ou de efectuar exigências materiais, políticas e morais, a todo o mundo, devido a essa indiferença…”
In: “Israeli State or Israeli Nation”, de Boas Evron, autor israelita.

“…Já aprofundei exaustivamente as razões de estarmos aqui, razões pelas quais eu como pioneiro de 1906 posso afirmar que nada têm a ver com os nazis!... Estamos aqui porque a terra é nossa. E estamos aqui porque a fizemos nossa de novo neste momento e com o trabalho que nela praticámos. O nazismo e o nosso martírio no estrangeiro nada tem a ver directamente com a nossa presença em Israel…”
In: “Memoirs”, de David Ben-Gurion.”

“…Olhando o passado é fácil dizer que os milhões de judeus que foram assassinados pelo holocausto teriam sido poupados se a Palestina estivesse disponível para aceitar uma imigração ilimitada. A história deste período não é simples.
Primeiro, recordemos que outros planos de instalação foram propostos e energicamente recusados pelo movimento sionista.
Segundo, a grande maioria dos judeus europeus não eram sionistas e não tinham tentado emigrar para a Palestina antes de 1939.
Terceiro, depois de a guerra ter começado, à medida que os nazis iam ocupando países, recusaram-se a deixar sair judeus, tornando a emigração virtualmente impossível. E a Palestina, como já mostrámos, já se encontrava ocupada; Os árabes ali residentes tinham razões mais válidas do que qualquer outro país para querer limitar a imigração judaica. Leia-se o seguinte:

Emigração para a Palestina antes da Segunda Guerra Mundial

“…Em 1936 a União Social Democrata (Social Democratic Bund) teve uma vitória acentuada na Polónia, nas eleições para a “Kehilla” (comunidade) judaica. As suas principais palavras de ordem incluíam “uma hostilidade inflexível” ao sionismo, e à promoção da emigração de judeus polacos para a Palestina. A União desejava lutar contra o anti-semitismo na Polónia, permanecendo ali. O objectivo dos sionistas era contrário, por uma questão de princípio, a todos os principais partidos e movimentos da comunidade judaica de antes da guerra de 1939… Nos outros países da Europa de Leste a influência do sionismo era ainda mais fraca…”
In: “The Myth os Rescue”, pelo Prof. William Rubinstein.

“…De facto o sionismo sofreu a sua própria derrota no holocausto, falhando como movimento. Ao fim ao cabo não tinha conseguido convencer a maioria dos judeus a deixar a Europa para se fixarem na Palestina enquanto isso ainda era possível…”
In: “The Seventh Million”, de Tom Segev, historiador israelita.

Emigração durante a 2ª Guerra Mundial

“…quando começou a Guerra o governo nazi decretou a proibição da emigração na Alemanha e em todos os países que foram caindo sob o seu poder. Depois de 1940 tornou-se portanto impossível para os judeus emigrarem da Europa que fora ocupada pelos nazis, para lugares seguros. As portas tinham-se fechado pesadamente: pelos nazis, que não fiquem dúvidas…”
In: “The Myth os Rescue”, pelo Prof. William Rubinstein.

A Palestina também não era porto seguro

“…em Setembro de 1940, os italianos, em guerra com a Grã-Bretanha bombardearam a parte baixa da cidade de Tel-Aviv, com mais de cem vítimas. Como o exército alemão estava a conquistar a Europa e o Norte de África parecia possível que acabaria por fazer o mesmo à Palestina. No Verão de 1940 e na Primavera de 1941, e de novo no Outono de 1942 o perigo parecia eminente. Os yushuv entraram em pânico. Muitas pessoas tentaram escapar-se do país, mas não era fácil. Muitos, não querendo correr certos riscos, traziam consigo cápsulas de cianeto…”
In: “The Seventh Million”, de Tom Segev, historiador israelita.

Em todo o caso a Grã Bretanha não podia ceder a Palestina: ela já estava ocupada!...

“… viemos para este país que já estava povoado por árabes, e estamos a instalar aqui um estado hebreu, quer dizer, um estado judeu. Vilas judaicas foram construídas no lugar de vilas árabes. Não há uma única comunidade no país que não tenha sido anteriormente povoada por árabes…”
Palavras de Moshe Dayan, líder israelita citado por Benjamin Beit-Hallahmi no seu livro “Original Sins”.

“…podemos argumentar pelo direito de uma minoria perseguida a encontrar refúgio noutro país capaz de o receber; é constrangedor, no entanto, argumentar pelo direito de uma minoria pacífica deslocar politica e até fisicamente a população indígena doutro país. Esta contudo era a intenção real do movimento sionista…”
In: “Image and Reality of the Israel-Palestine Conflict”, de Norman Finkelstein.

O uso do holocausto com fins políticos

“…em 1947 as Nações Unidas nomearam uma comissão especial, a UNSCOP (United Nations Special Committee on Palestine) para tomar decisões a respeito da Palestina. Os seus membros foram solicitados a visitar os campos de sobreviventes do holocausto. Muitos de tais sobreviventes desejavam emigrar para os Estados Unidos, um desejo que minava as pretensões sionistas de que o destino da comunidade judaica da Europa estava ligado ao da comunidade judaica da Palestina. Quando os representantes da UNSCOP chegaram aos campos, não se deram conta de manobras de bastidores que limitavam o seu contacto apenas com candidatos à emigração para a Palestina…”
In: “The Link – January, March, 1998” de Ilan Pappe, historiador Israelita.

“…no interior dos campos de pessoas deslocadas (DP camps), emissários da Yushuv organizavam os programas de actividade, principalmente quanto ao testemunho a ser dado pelos deslocados quanto ao lugar para onde tencionavam ir, quer ao “Anglo-American Committee of Inquiry”, quer à UNSCOP.
Os enviados da Agência Judaica fizeram um relatório para Israel de que tinham tido êxito em impedir testemunhos “indesejáveis” no decurso das entrevistas. Um deles escreveu à sua namorada dizendo “que temos de mudar constantemente o estilo de escrita e de caligrafia de maneira que eles pensem que os questionários foram preenchidos pelos refugiados…”
In: “The Holocaust in Americam Life”, de Peter Novick.

Conselheiro de Roosevelt explica porque razão não foi oferecido direito de asilo nos EUA aos judeus refugiados depois da 2ª Guerra Mundial

“…Que aconteceria se o Canada, a Austrália, a América do Sul, Inglaterra e os Estados Unidos se dispusessem todos a abrir a porta a certa migração? Mesmo agora, em 1947, é minha opinião, e tenho ido à Alemanha desde o fim da guerra, que só uma minoria dos refugiados judeus escolheria a Palestina para viver…”

“…Roosevelt propôs um orçamento mundial para facilitar a emigração de 500.000 derrotados da Europa. Cada nação abriria as suas portas a alguns milhares. Sugeriu-me portanto que durante as minhas viagens por sua conta a Inglaterra durante a guerra fosse sondando por alto e informalmente os lideres de opinião pública, dentro e fora do governo. A resposta foi simples: a Grã-Bretanha fará tal e qual o que fizerem os EUA, pessoa por pessoa, quanto a admissões de gente proveniente da Europa. Parecia pois, que tudo estava combinado. Com o resto do mundo provavelmente na disposição de aceitar 200.000 refugiados, havia fortes razões para que o presidente pressionasse o Congresso para receber pelo menos 150.000 imigrantes, depois da guerra…”

“…livrar-nos-ia da hipocrisia de fecharmos as nossas próprias portas, ao mesmo tempo que fazíamos pias exigências aos árabes. Mas a ideia não funcionou. O falhanço das organizações de liderança judaicas para apoiar de forma zelosa este programa de imigração pode ter estado na origem de o presidente nunca se ter preocupado muito com o cumprimento do mesmo…”

“…Falei com muitos activistas das organizações judaicas. Sugeri o plano e fiquei estupefacto, e até senti como um insulto quando líderes judeus me não ligaram importância, me ridicularizaram e depois me atacaram como se eu fosse um traidor. Penso que sei a razão para a maior parte dessa oposição. Há um interesse profundo, genuíno, fanático e emocional mesmo, em propagandear o movimento sionista. Homens como Ben Hecht estão muito pouco preocupados em evitar que o sangue corra, a menos que seja o seu próprio…”
In: “So Far, So Good”, de Morris Ernst, assessor jurídico e amigo do presidente Roosevelt.

“Vitimologia”

“…os judeus que jogaram a cartada de se armarem em vítimas têm consciência não só da sua eficácia social, mas também da sua utilidade em assegurar a obtenção de solidariedade judaica e, por isso, meios de sobrevivência. Se fossemos odiados para sempre por todos e sendo condenados a ser para sempre odiados por todos, o melhor seria cerrar fileiras e tirar o melhor partido disso. Pessoalmente nunca achei que essa ideia do “gentio” eternamente portador de ódio, tivesse qualquer coisa a ver com a realidade. Parece um mito, puro e simples e por sinal, bem feio…”

“…Será eficaz como meio de controlo social? Talvez, mas com que custos? Aliena a fé e a história de judeus e de gentios de igual maneira, salvo no que toca a alguns meses das suas confrontações mútuas. Atola-se num imaginário sinistro e exalta para todo o sempre um judeu moralmente superior, vitimizado pelo, para todo o sempre, inferior “goy”. Passei a maior parte da minha vida de adulto na companhia de Judeus hassídicos, a maior parte dos quais eram sobreviventes do holocausto, e nunca tive de suportar a infatigável e patética “vitimologia” e a doentia necessidade de memoralizá-la. A “vitimologia” permite aos judeus passar de lado a sua própria fé e oferecer em substituição lealdade nacional ao estado Israel/holocausto…”
Palavras do Rabbi Mayer Schiller, citadas em “Issues of the American Council for Judaism”, Verão de 1998.

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